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“Discurso oficial sobre a reforma da previdência é uma fraude”, diz ex-banqueiro

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O economista e sócio-fundador do Banco Plural, Eduardo Moreira, vai na contramão das maiores dos pensadores do mercado financdeiro e diz que o projeto de reforma da Previdência acentuará as desigualdades sociais no país, além de criticar a ideia de Estado mínimo

NSC TOTAL
15/04/2019

O economista Eduardo Moreira (foto) fez a palestra de encerramento do Meeting Comex, em Joinville, na semana passada, quando disparou argumentos contrários ao senso comum dominante. O ex-banqueiro vai contra a corrente. Afirma, por exemplo, que o projeto de reforma da Previdência é uma fraude e acentuará as desigualdades sociais no país, além de criticar a ideia de Estado mínimo. 

Formado em Engenharia pela PUC-RJ, Eduardo estudou Economia na Universidade da Califórnia. Em 2013, foi eleito pela revista Época Negócios um dos 40 brasileiros de maior sucesso com menos de 40 anos e, em 2016, foi votado pela revista Investidor Institucional como um dos três melhores economistas do Brasil.

É sócio-fundador do grupo financeiro Brasil Plural, com escritórios no Brasil e nos EUA. Escreveu oito livros, entre eles o bestseller “Encantadores de  vidas”.

Confira a entrevista:

O senhor é crítico do projeto da reforma da Previdência. Por quê?

O projeto da reforma está sendo vendido à população num cenário diferente do que existe. As pessoas não sabem qual é o déficit, até mesmo há números oficiais diferentes. O que tem de ser visto é o que está nos artigos 194 e 195 da Constituição Federal.

O que isso quer dizer?

Tem de se olhar para o conjunto de contribuições feitas pelos empregados, empregadores e governo, via Cofins, Pis/Pasep e CLLS. Então, até 2015, havia superávit.

O discurso da reforma…

O discurso oficial sobre a reforma é uma fraude. Uma fraude total. Juntaram regimes previdenciários distintos – do servidor público, dos militares e do regime geral numa coisa só. No caso dos militares, por exemplo, cederam aos interesses deles.

A reforma não combate privilégios?

De jeito nenhum! Não há privilégio sendo combatido. 84% da economia proposta com a reforma virá de quem está no regime geral de previdência. A reforma vem para punir os mais pobres. Digo isso com base no que diz o texto. No item 50 da PEC consta que rico é quem ganha R$ 2.200,00 por mês. Um absurdo. 

Mas o Estado tem de gastar menos.

Claro que o Estado, o governo, tem de ser mais eficiente do que é agora. Falta saúde, a educação é de má qualidade, as estradas são ruins. Não ter presença do Estado é ruim. O chamado Estado mínimo não melhora a vida da sociedade. Somos um dos países mais desiguais do mundo.

O PIB cresce abaixo de 2% neste ano, depois de vários anos de crise. O que é preciso para a economia crescer mais?

Não há crescimento sem investimentos. E o governo tem pouca capacidade de investimento. Em 2016 foi aprovada a PEC do teto de gastos. E ela impede o Estado de investir mais. Claro que não sou contra a responsabilidade fiscal. Mas o Brasil fica refém da iniciativa privada.

E por que isso é negativo?

A iniciativa privada faz lobby pela redução de direitos sociais e isso pode prejudicar condições de trabalho. O Estado não investir é um problema grande. Um perigo grande. Claro que o país precisa de equilíbrio de contas, mas o Brasil travou.    

O Brasil está pronto para receber investimentos externos significativos?

Não haverá grande onda de investimentos externos no Brasil. O governo é monotemático: só há um assunto, a reforma da Previdência. Não acredito que o Brasil deva ter como meta zerar o déficit.

Educação é a questão mais importante do país para melhorarmos a competitividade face os Estados Unidos, Alemanha, China, Japão?

A educação é muito importante, sem dúvida. Mas é necessário ter saneamento, ônibus, creche. A educação tem de vir como parte da formação das pessoas. 

Outra questão antiga é a da reforma tributária. Tem chance de acontecer?

É preciso diminuir as desigualdades. Uma reforma tributária deveria ser posta com menos tributos sobre bens e serviços, e taxação mais forte sobre renda e ganhos de capital. 

Há afastamento entre as elites e a base da pirâmide?

Os ricos não têm a menor ideia de como é a vida da maioria dos brasileiros, dos pobres.  

A onda de direita, a onda conservadora, vai durar?

A onda de direita é um ciclo. Um ciclo que será mais curto do que muitos pensam. Os Estados Unidos tiveram Obama, com olhar para o social; agora, Trump. Aqui no Brasil, o ciclo de direita será curto. Por conta do próprio Bolsonaro. A vida é um pêndulo. Gira de um lado para outro. O perigo que enxergo é Bolsonaro jogar o pêndulo com muita força para um dos lados.


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